Retornamos à Fazenda do Brigadeiro para mais uma expedição! Desta vez, além da constante busca pelos muriquis, três missões nos animam: a primeira revisão das armadilhas fotográficas, uma investida nos mirantes e florestas do Vale do Ouro e a visita a um dos pontos ícones das pesquisas em 2004: a árvore seca.
Já no segundo dia de campo eles apareceram! Muriquis do Matipó – mas no Vale do Ouro? Lembranças e conhecimentos vieram à tona. Os muriquis têm áreas de vida extensas, que podem passar dos 1000 hectares. E o grupo Matipó, habituado e pesquisado entre 2004 e 2007, tem um território que vai desde as encostas do Matipó até o terço médio do Vale do Ouro. Porém, mais de uma década depois, dúvidas surgem sobre a identidade e localização dos grupos. Seria realmente o grupo Matipó? Ou o grupo Vale do Ouro? Ou um novo grupo formado nos últimos anos? A resposta dependeria de uma ação: fomos ao encontro deles para registrar suas faces na esperança de identificar algum dos antigos e conhecidos muriquis. Não demorou. Com um pouco de paciência e experiência dos pesquisadores, logo foram reconhecidos: Gaia, Flor, Kundun, juntamente com novos integrantes, Xande, Branco e Fernanda, dentre outros! Aos poucos estamos recompondo as faces e remontando os grupos, uma etapa crucial para entender como a população desta espécie ameaçada está se comportando na Serra do Brigadeiro. Será que aumentaram em número de indivíduos na última década? Ou diminuíram em função da febre amarela?
Para ajudar a compreender e responder estas questões, as armadilhas fotográficas começaram a nos trazer importantes dados. Foi uma grande satisfação revisar cada uma das “traps” e saber que cumpriram com o esperado: registros de muriquis! Foram diversas fotos e vídeos em diferentes locais. Certeza e ânimo para continuarmos apostando nesta nova metodologia de investigação do dossel florestal. Discutimos a respeito do Vale do Ouro, um local estratégico onde transitam pelo menos dois grandes grupos de muriquis, talvez três. Estudamos possibilidades de trilhas e pontos para instalação das “traps” no dossel, já que nossos pontos iniciais ali registraram apenas fantasmas (termo que usamos para registros de galhos balançando, folhas caindo, insetos, chuva). Certamente retornaremos em uma expedição dedicada exclusivamente a este vale.
A leste da Fazenda – após a subida de uma encosta que testa os corações – está o Vale Perdido. Já o tínhamos acessado dois meses atrás, em busca da grande figueira, e agora o objetivo era outro. Depois de vencer algumas encruzilhadas e outras subidas íngremes, lá estava ela, a árvore seca! Uma candeia mortificada que no alto de uma cumeeira seca e cascalhenta, insiste em permanecer imutável ao tempo e às intempéries. Sorte a nossa: ela continua um excelente mirante!
De fato, o mirante valeu! Muriquis à vista! Binóculos em punho, drone ao ar. E alguns importantes registros! Finalizamos a expedição com uma boa dúvida. Dois grupos de muriquis visualizados: seriam sub-grupos do Matipó, explorando diferentes áreas do território? Ou seriam dois grupos válidos? Aguardemos as próximas expedições, torcendo para que as “traps” façam muitos registros enquanto estivermos fora!
Escrito por: Leandro Santana Moreira
Ficha técnica
Projeto: Montanhas dos Muriquis
Espécie foco: Muriqui-do-Norte (Brachyteles hypoxanthus)
Metas: Contagem de grupos, identificação de indivíduos, reabertura de trilhas e acessos a mirantes, instalação de câmeras-trap em dossel, sobrevoos com drone, contato com vizinhos humanos
Equipe: Leandro Moreira; Viviane Moura, Thiago Gomide, Anderson Filó
Pesquisador de apoio: Davi Gjorup
Acolhimento: Família de Dona Rita e Sr. Jesus
Data: 01 a 07 de maio de 2019
Local: Vale do Ouro e Vale Perdido, Fazenda do Brigadeiro
Clima: Seco, pouco nublado
Vales percorridos: 2
Muriquis registrados: 2 grupos/ou sub-grupos; mais de 30 muriquis
Mirantes acessados: 2
Câmeras-trap instaladas: 2
Câmeras-trap revisadas: 5
Realização: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)
Gestão: Plataforma Semente / MPMG
Financiamento: O projeto Montanhas dos Muriquis foi viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais, através da Plataforma Semente, por meio de um processo de compensação ambiental.