Em busca do desconhecido

Ficamos hospedados na casa que gentilmente o Eliseu nos emprestou. Bem aos pés da trilha do Pico do Boné, com vista para o Vale e para a região do paredão. Novamente expectativas do que está por vir nos permeia, já que é uma região bastante visitada – o que poderia afugentar de alguma maneira os muriquis – mas também poderia trazer algum registro de visualização por parte da comunidade e dos turistas.

Começamos, em um dia chuvoso pela trilha que dá acesso ao Pico do Boné. Como reconhecimento de área e observação de potencialidades para instalação de câmeras, sobrevoos com drone, etc. Parte da equipe seguiu para instalar uma das câmeras na região da Fazenda do Brigadeiro, ação adiada na expedição anterior em função das fortes chuvas.

Chegamos ao Mirante do Boné, e o visual era completamente fechado, muita neblina úmida e fria. Retornamos na esperança de algum encontro com os muriquis na floresta, sem sucesso. Chegando a casa nos reunimos e junto com os pesquisadores que foram até a Fazenda veio a notícia de vocalizações típicas de encontro de grupos na região do Matipó. Nos preparamos para acordar bem cedinho e seguir para lá, a fim de registrar o maior número de indivíduos possível e tentar reconhecer alguns.

Na fazenda, ao raiar do dia, entramos pelas trilhas ainda úmidas do orvalho, e antes que a neblina se levantasse por completo avistamos os primeiros indivíduos se deslocando para o lugar dos vocais registrados no dia anterior. Seguimos na direção deles e os encontramos na estrada dos Muricis. Muitos indivíduos, uma dança vocal e física, como um Balé, ou melhor, um Tango – pela intensidade – de macacos defendendo seu território. Passamos o dia fazendo contagens, registrando faces, nos comunicando com os membros da equipe que estavam do mirante observando a copa das árvores e também fazendo sobrevoos com drone.

Dia seguinte aproveitamos a manhã para observar imagens de satélite, preparar as entrevistas com a comunidade e então saímos para encontrar famílias com as quais conversamos em 2008. Encontramos uma moradora, e ficamos felizes em saber o quanto a sua condição melhorou. Na casa barreada onde não chegava estrada, luz e banheiro, hoje já tem todos esses recursos e uma cobertura de laje.

Conforme planejado, no quarto dia fomos para a Trilha do Carvão. Uma trilha bastante acessada por turistas, em uma região de mata bem preservada e que corta a Serra no sentido leste – oeste. Saímos logo cedo, observando locais potenciais para a instalação de câmeras e possíveis travessias dos muriquis. Na volta, já para o fim do dia, encontramos os muriquis!!! Poucos indivíduos que estavam bastante incomodados com a nossa presença e nos ameaçaram por uma hora inteira! Com as esperanças renovadas, deixamos o grupo quando não mais os avistamos e seguimos para o planejamento do dia seguinte.

Há na região do Boné a família do Sr. Dico Simão, que oferece aos turistas o serviço de cama e café com hospedagens simples e com jeitinho mineiro de receber. Chegamos cedo na casa dele e ouvimos várias histórias a respeito da Serra, dos “monos” e locais possíveis para encontrarmos os muriquis. Como recomendado por ele, do mirante do Cruzeiro foi possível observar toda a região da trilha do Carvão, inclusive o local onde encontramos os muriquis no dia anterior. Seguimos para lá, binóculos e câmeras para varrer o dia todo com os olhos aquela região.

No fim da tarde, com sobrevoo de drone, foi possível observar o deslocamento dos muriquis e no dia seguinte tentar vê-los novamente. Logo cedo os observamos, mas o visual se perdeu logo que se deslocaram. Fizemos mais sobrevoos, mas sem sucesso de observação. Seguimos caminhando na direção de onde foram vistos. Os encontramos forrageando e, logo que nos viram saíram em fuga.

E nós seguimos nossa rota, rumo ao planejamento de uma nova expedição…

Escrito por: Viviane Moura

Ficha Técnica

Local: Pico do Boné e Trilha do Carvão / Fazenda do Brigadeiro – Matipó

Data: 02 a 09 de abril de 2019

Caminhos:  3 trilhas principais reabertas e percorridas

Mirantes: 3 pontos mirantes acessados e utilizados em monitoramentos

Armadilhas fotográficas: + 4 instaladas (8 funcionando ao todo)

Entrevistas: 4 entrevistas indiretas

Uso de drone: >15 voos realizados

Muriquis: identificado um grupo de muriquis na região da Trilha do Carvão, contabilizando 15 indivíduos (5 machos, 2 fêmeas, 3 fêmeas com filhotes e 2 jovens). O grupo de muriquis Matipó foi novamente registrado, elevando a contagem de indivíduos identificados para 33 (13 machos, 3 fêmeas, 6 fêmeas com filhotes, 2 fêmeas subadultas, 2 jovens e 1 indefinido).

Outros primatas: Também foram registrados saúas (Callicebus nigrifrons), macacos-prego (Sapajus nigritus) e saguis-da-serra-escuros (Callithrix aurita) – estes últimos também são classificados como criticamente ameaçados.

Realização: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)

Gestão: Plataforma Semente / MPMG

Financiamento:  O projeto Montanhas dos Muriquis foi viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais, através da Plataforma Semente, por meio de um processo de compensação ambiental.