Estas foram as palavras que ecoaram entre os pesquisadores do projeto Montanhas dos Muriquis, durante sua primeira expedição de campo. Não poderia haver outro local senão a Fazenda do Brigadeiro para receber essa simbólica expedição!
Há 15 anos iniciava-se o primeiro projeto contínuo voltado para a pesquisa e conservação dos muriquis-do-norte na Serra do Brigadeiro: o projeto Muriquis de MG. A Fazenda do Brigadeiro foi justamente o local escolhido para receber e abrigar os pesquisadores. Naquela época, pouco se conhecia a respeito dos muriquis na Serra e os equipamentos disponíveis eram pouco avançados – GPS com sinal péssimo, binóculos de curto alcance, câmeras analógicas, além dos mapas impressos em preto e branco. Ainda assim aquele projeto obteve êxito, habituando e pesquisando um dos grupos de muriquis com 43 indivíduos e registrando outros 4 grupos nas redondezas.
Foi preciso mais de 60 anos para que os muriquis das montanhas se recuperassem dos intensos desmatamentos que alimentaram carvoarias e fornos. E agora enfrentam uma silenciosa ameaça, tão danosa e difícil de ver: a febre amarela. Então, o reinicio! Esse é o ritmo natural das coisas: tudo vem, tudo passa, algo retorna. Em face dos atuais desafios, o projeto Montanhas dos Muriquis reinicia. Todas as energias, parcerias e movimentos o fizeram acontecer, com o propósito constante de preservação de nossa Mata Atlântica e também das espécies em risco crítico de extinção.
Há 10 anos foram feitos os últimos registros científicos dos muriquis na Fazenda do Brigadeiro. Naquele momento fazíamos as filmagens para o documentário “Entre Montanhas e Muriquis”. Naquela época lidamos contra forças que paralisaram as pesquisas e ações pela conservação na Serra. Restou-nos aceitar os fatos e seguir outros caminhos. Mas os muriquis permaneciam lá, nas mesmas florestas.
Então, veio o recomeço! Mesmo que o tempo passe, o que é essência em nós de prontidão está. A persistência encontrou apoio na justiça para forjar um novo projeto. Se por um lado perdemos anos valiosos nas pesquisas, temos agora a nosso favor ferramentas modernas. Mapas virtuais, binóculos de longo alcance, câmeras digitais super-zoom, armadilhas fotográficas e um drone para sobrevoos florestais! Tudo utilizado por uma engajada equipe de pesquisadores, que já trabalham para dar vida ao projeto.
Quão importante foi reiniciar e recomeçar! Daí surgiu a oportunidade de reencontrar. Reencontrar muriquis e seus locais secretos. Reativar na memória os caminhos, trilhas, acessos por entre os picos e vales. Refazer planos e ações de trabalho em equipe. Reviver o contato com as pessoas amigas ao longo da Serra. Repensar nossa utilidade em prol de uma conservação harmoniosa.
Foi com esta atmosfera que chegamos à Fazenda do Brigadeiro no último dia 14. Já na chegada fomos acolhidos por velhos amigos e vizinhos do Parque. E apesar das trilhas apagadas e acessos fechados, da chuva e vendavais, bastou adentrarmos nas florestas e caminhar poucas horas em antigas rotas conhecidas para reencontrarmos o que nos trouxera de volta: os Muriquis! Se a surpresa foi inicialmente marcante para ambos – muriquis e pesquisadores – bastou poucos minutos para a calmaria se reestabelecer e termos a certeza de que aquele era o grupo Matipó, que fora habituado 15 anos atrás. Para nossa grande alegria, estes muriquis continuam amistosos à presença humana! Daí em diante será possível pesquisa-los novamente e atuar por sua conservação.
Escrito por: Leandro Santana Moreira
Ficha técnica
Projeto: Montanhas dos Muriquis
Espécie foco: Muriqui-do-Norte (Brachyteles hypoxanthus)
Metas: Contagem de grupos, identificação de indivíduos, reabertura de trilhas e acessos a mirantes, instalação de câmeras-trap em dossel, sobrevoos com drone, contato com vizinhos humanos
Equipe: Leandro Moreira; Viviane Moura, Thiago Gomide, Anderson Filó
Pesquisador de apoio: Davi Gjorup
Acolhimento: Família de Dona Rita e Sr. Jesus
Data: 14 a 21 de março de 2019
Local: Fazenda do Brigadeiro, norte do Parque Estadual Serra do Brigadeiro
Clima: Chuvoso durante toda a expedição
Vales percorridos: 3
Muriquis registrados: 23 indivíduos, incluindo 3 filhotes
Mirantes acessados: 2
Câmeras-trap instaladas: 4
Realização: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)
Gestão: Plataforma Semente / MPMG
Financiamento: O projeto Montanhas dos Muriquis foi viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais, através da Plataforma Semente, por meio de um processo de compensação ambiental.