Nenhum local mais apropriado para uma boa reunião – eis que retornamos então à Sede do Parque Estadual Serra do Brigadeiro. Num momento repleto de visitas de apoiadores e parceiros do projeto, escolhemos a sede para recebê-los, não apenas por sua importância e localização estratégica, mas também por persistir ali um mistério à nossa pesquisa. Mesmo após ótimos registros dos muriquis em nossa última expedição à Sede, ainda permaneciam algumas perguntas: seriam de fato dois grupos de muriquis habitantes daquelas florestas? Ou seria um único grande grupo subdividido? Ou poderiam haver mais de dois grupos? Quais seriam suas fronteiras e pontos de encontro?

Na companhia da Renata – parceira do projeto e representante da Plataforma Semente – andamos bastante no primeiro dia de expedição. Trilhas, mirantes, arvorismo para revisar câmeras. Só faltavam aparecer os muriquis. Eis que no finalzinho da tarde, perto de onde já encerávamos o dia, latidos de muriquis! Rapidamente preparamos o drone para um voo de reconhecimento. Visualizamos o local possível em que eles estariam – bem próximo de uma trilha conhecida – e partimos ao encontro deles. Instantes depois lá estávamos nós, bem pertinho dos muriquis! Algumas fotos entre tantos movimentos e a luz do dia se foi. Retornando ao alojamento, rapidamente identificamos os indivíduos fotografados: estavam entre os muriquis registrados nas encostas da Pedra do Pato! Isso já prevíamos, mas e dali adiante? Poderiam seguir para a Trilha do Muriqui? O dia seguinte se mostrava muito promissor! Até que uma densa neblina, seguida de um intenso sereno, tapou e molhou tudo. O frio veio logo atrás. Nos próximos dois dias, nossas dúvidas tiveram de ser limitadas ao alojamento, de onde praticamente não arredamos os pés. Era estranho pensar que os muriquis estavam tão perto, mas ao mesmo tempo completamente fora de nosso alcance. Aquela densa neblina parecia querer guardar segredos.

Luz! Vencendo as barreiras da escuridão, o sol do quarto dia de expedição dissipou as cortinas que impediam nossa visão. Novamente o palco das pesquisas estava à nossa frente, plenamente visível. Trilhas e mirantes nos esperando! Já estava tão bom o calor do sol e ficou ainda melhor quando bons amigos e parceiros pela conservação chegaram para aquecer nossos corações: Bião, Fabi, Fefê e companhia! Sol, amigos, boas prosas e ideias. Só faltavam eles: lá estão! Muriquis à vista! Na trilha do Muriqui! Rapidamente nos posicionamos. Binóculos, câmeras e olhos atentos. Não demorou e estava confirmado: era novamente o mesmo grupo registrado nas encostas da Pedra do Pato! Parte do mistério resolvido, mas e o grupo que registramos na Casa de Hóspedes e Ermida? Quase que por orquestrada sincronia, uma mensagem dos guardas parque avisou: os muriquis estão acima da Casa de Hóspedes! Enfim, estávamos na pista de ambos os potenciais grupos, relativamente próximos. Para resolver os mistérios que ainda permaneciam, precisávamos presenciar o encontro dos grupos: seria amistoso ou disputado?

Nossa sorte aumentou proporcional ao calor. Dois dias se passaram e debaixo de um sol escaldante, o grande encontro aconteceu! Vindos de leste e oeste, muriquis se deslocaram para as altas cumeeiras da Sede e encontraram-se sobre a estrada que atravessa o Parque. Vocalizações inconfundíveis em meio a alvoroçados movimentos. Relinchos rasgavam os vales enquanto saltos arriscados rompiam das copas das árvores. Tudo bem diante de nossos olhos! Não havia mais dúvidas: estavam ali dois grupos de muriquis a duelar! No caso desta pacífica espécie, até mesmo os duelos não são violentos e se limitam a muito barulho e agitação. Missão cumprida e mistério solucionado: existem dois grupos de muriquis na Sede do Parque!