Mirantes extremos: voos ousados

Se a cada passo dado a caminhada avança, a cada vale percorrido o território dos muriquis se revela. Foi este o pensamento que nos conduziu novamente à Fazenda do Brigadeiro, no norte do Parque. Nas primeiras expedições, revisitamos algumas áreas e reencontramos muitos muriquis. Contudo, alguns locais remotos e importantes permaneciam além do nosso alcance, guardados por mais de 10 anos de isolamento. Trilhas? Só mesmo na vaga lembrança virtual do GPS – naquela época nada preciso. Mas quando a aventura é boa, a memória se refaz. E os caminhos, ainda que fechados, novamente se desenham à frente!

Muriquis avistados perto da árvore seca: um convite para adentrarmos novamente o Vale Perdido. Os dois primeiros dias de expedição já indicavam o rumo – os mirantes extremos. Sabíamos que era preciso subir as grandes montanhas. A tríplice que rompe as barreiras da visão: Pico do Rochedo, Pico do Cruzeiro e Pico de Trás da Serra. Organizamos-nos contando com a ajuda de nossos apoiadores, Davi e André Lanna, e seguimos em duplas com a missão de alcançar os três Picos.

E foi distante – pra não dizer no limite do olhar – que nossa recompensa se fez visível. Muriquis à vista! Além das cumeeiras de Trás da Serra, já nos contrafortes a leste do grande maciço do Soares. Lá estavam eles: um grupo de muriquis pouco conhecido, chamado por nós de grupo Vale do Ouro. Mas daquele ponto remoto ao local onde o grupo se deleitava em folhas frescas já não havia mais acessos. A longa distância que os binóculos tentavam encurtar ainda era grande demais para permitir as observações que buscávamos. Se as pernas nos levaram alto, era o momento das asas nos levarem lá em baixo: hora de voar até os muriquis!

Drone montado e testado. Contagem regressiva e lá vamos nós, numa carona virtual pelos ares! Em menos de dois minutos já avistamos os muriquis: um grupo completo, com muitos jovens, machos em cacho, fêmeas se alimentando e filhotes curiosos! Com total respeito ao limite de tolerância dos animais ao drone, voamos buscando identificar o máximo de indivíduos – o que nos permitirá estimar o tamanho e composição do grupo. Dados e cenas coletados no limite de cada bateria. Voos ousados que romperam fronteiras e compensaram a expedição!  

Nos dias seguintes, o visual a partir das encostas do Rochedo ainda revelariam o paradeiro do grupo Matipó, permitindo definir áreas de uso de grupos distintos simultaneamente. Já a subida ao Pico do Cruzeiro não revelou muriquis, mas em compensação permitiu definirmos importantes áreas para as futuras expedições. Além de que reativamos uma cadeira cativa nas montanhas, da qual sabemos: é somente uma questão de tempo para assistirmos o balé dos muriquis no palco das florestas!!!

Escrito por: Leandro Santana Moreira

Ficha técnica

Projeto: Montanhas dos Muriquis

Espécie foco: Muriqui-do-Norte (Brachyteles hypoxanthus)

Metas: Contagem de grupos, identificação de indivíduos, abertura de trilhas e acessos a mirantes, instalação de câmeras-trap em dossel, sobrevoos com drone, contato com vizinhos humanos 

Equipe: Leandro Moreira; Viviane Moura, Thiago Gomide, Anderson Filó

Pesquisadores de apoio: Davi Gjorup e André Lanna

Acolhimento: Família de Dona Rita e Sr. Jesus 

Data: 13 a 19 de julho de 2019

Local: Fazenda do Brigadeiro

Clima: Seco e frio

Vales percorridos: 4

Muriquis registrados: 3 grupos; mais de 50 muriquis

Mirantes acessados: 3

Câmeras-trap instaladas: 2

Câmeras-trap revisadas: 8

Realização: Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB)

Gestão: Plataforma Semente / MPMG

Financiamento:  O projeto Montanhas dos Muriquis foi viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais, através da Plataforma Semente, por meio de um processo de compensação ambiental.

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