Chegamos ao centro da Serra do Brigadeiro: a sede do Parque Estadual. Curiosamente, convergem para este local referências geográficas, estradas e eixos de comércio regionais, atrativos turísticos, atividades educativas ligadas ao parque, além de visitantes e pesquisadores. Literalmente, aqui está o coração do Parque! E claro, os muriquis não poderiam deixar de também estarem por perto! Como um prelúdio dos próximos dias, nossa primeira noite de expedição foi iluminada por um grande asteroide, que cortou todo o céu da serra e iluminou cada face a vislumbrar aquele belo espetáculo! Sinais cósmicos!!!

De acordo com nossas informações prévias, dados de pesquisas anteriores, bem como relatos de funcionários do Parque e moradores locais, havia vários pontos nos quais os muriquis costumavam aparecer. Será que um único grupo viajava por toda a área da sede? Ou seriam dois ou mais grupos? E quantos muriquis fariam parte desta tribo central? Haveria muitos filhotes? Para responder esta e outras dúvidas, a equipe de pesquisadores preparou seus equipamentos e dividiu-se entre o céu e a terra. Enquanto alguns de nós subimos as encostas das montanhas buscando pontos mirantes, outros desceram grotas e vales – buscando pistas recentes dos muriquis. E não demorou! Já no primeiro dia de expedição, bem posicionados no mirante da Lajinha e com olhos atentos, os pesquisadores detectaram um grupo de muriquis! Estávamos com sorte: este grupo saltitava acima da casa de Hóspedes do Parque, um ótimo local para tentarmos uma aproximação e registros mais detalhados dos indivíduos. Naquela noite dormimos sonhando com os próximos dias.

No dia seguinte, empolgados com a presença dos muriquis não tão distantes, seguimos para a casa de Hóspedes. Apesar do frio, o sol banhava com luz toda aquela grota e tudo estava muito colorido. Alguns muriquis vistos de longe, ainda bolinhas de pelo, foram o suficiente para planejarmos uma sutil aproximação. Dividimos-nos nesta missão e na busca por algum outro grupo nas Trilhas do Muriqui e Pico do Grama. Pé por pé adentramos a floresta. O frio que paralisava nosso movimento só era vencido pelo vento que balançava tudo. Se a vontade de registrar os muriquis nos empurrava, a paciência para não os assustar nos freava. Mas aos poucos seguimos: uma aproximação comedida que culminaria num épico momento! Quando nos demos conta – o mais silenciosamente possível – estávamos bem no centro do grupo de muriquis! Se ao redor, vento e frio ainda imperavam, naquela grota quase secreta o sol acalmava tudo em luz e calor. Como é o dito: estávamos no olho do furacão! E com câmera em mãos!

A quietude e o respeito talvez tenham nos premiado. Permanecemos ali tão imóveis e silenciosos que os muriquis nos viram um a um, mas não fugiram. Iam e vinham curiosos, mas nos toleraram. Foi o suficiente para registrarmos quase todo o grupo. E a luz que permeava cada foto era surreal! Depois de quase 15 anos de pesquisas, este foi sem dúvida um dos momentos mais sublimes no qual pudemos fotografa-los. Um verdadeiro presente que desfrutamos com nossa maior admiração!

E como se não bastasse, alguns dias depois, estes momentos parecem ter se repetido, porém agora rumo à Ermida e Pedra do Pato. Enquanto parte da equipe observava um grupo de muriquis se deslocando frente à capelinha ícone do Parque, outro pesquisador encontrava mais muriquis subindo as encostas da Pedra do Pato. Diferentes muriquis e uma mesma luz sublime: fotos e momentos únicos! Além de uma pista para a pergunta que ficou no ar: seriam então dois grupos de muriquis?